A visibilidade e o controle dos corpos
- zonanortejornalpoa
- 11 de fev.
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Sem a dicotomia cartesiana que o separa da mente/alma, trago uma abordagem de eventos na qual o corpo tem um protagonismo que mexe com fundamentalismo religioso e favorece a ideologia de extrema direita.
No macropolítico, temos a volta de Donald Trump à presidência dos EUA, marcada por discurso e ações de ódio que fomentam um exílio de migrantes, que defende uma expulsão de palestinos de Gaza, reduzidos apenas a corpos sem sujeitos desejos e direitos, para consolidar a supremacia de Israel, aliado que o favorece inclusive em construir seu Resort na região.
Trump ataca a comunidade LGBTQIAPN+ nos seus mais sofridos: os trans e travestis detentos que serão colocados em prisões masculinas (“Cristos “crucificados que mais incomodam a lógica binária, TFP, que sustenta o nazifascismo).
Por isso, com respeito a muitos amigos que pensam diferente, entendo que o escândalo com o “Cristo desnudo” do Bloco da Lage favorece a esta visão fundamentalista. Ela rebaixa o corpo, a sexualidade, como desrespeito à figura de Cristo. Como psicanalista, vejo na performance o simbólico dos nossos crucificados não somente a população lgbt+, mas os negros, as mulheres vítimas de feminicídios, violentadas e maltratadas no corpo e na alma.
Bem importante é "separar o joio do trigo" neste episódio do Cristo desnudo do Bloco da Laje, um coletivo carnavalesco, de espaço para arte teatral, não exclusivo da Diversidade Sexual. As opiniões se dividiram, tendo boas mentes, não de direta, que não acharam respeitosa a encenação, por um real sentimento conservador de fé cristã.
Outros, porém, performam na crítica com o intuito moralista, que favorece o preconceito com sexualidade, censura dos corpos e manifestação artística que toma Cristo como metáfora dos apedrejados e mortos na cruz. Pelo viés de Michel Foucault, temos, em tudo isso, os saberes e (podres) poderes se impondo pelo controle dos corpos.
Uma boa resposta a isso tudo foi a força da “Marsha trans em Brasília”, que reuniu cerca de 4 mil pessoas em homenagem a Marsha P. Johnson, ativista americana dos anos 60 e 90 pelos direitos da comunidade Lgbt+.
Em Buenos Aires, milhares foram às ruas, tendo a diversidade como vanguarda contra Milei, contra seu discurso antifeminista que relativiza o feminicídio e ataca a população LGBTQIAPN+.
Vivemos um momento potente das demandas mais amplas da diversidade puxadas pela Grande Érika Hílton, primeira deputada federal trans que hoje não quer apenas banheiros livres, mas direitos humanos sociais que todos os cidadãos, independentes de gênero e orientação sexual, merecem. No mesmo propósito, corpos e mentes ousadas, transformadoras, trans, travestis começaram o ano trabalhando firme pela nossa reconstrução: vereadoras Natasha e Atena, que formam com Giovane Culau o trio colorido na Câmara de Porto Alegre.
Nossos corpos diversos, habitados por sujeitos de desejos, pulsam pela vida nas ruas, nas instituições e nas escolas, trazendo a força libertária antifa por um mundo livre de opressões, num país que mais nos mata.
Em tempo: como coordenador do SOS-RS Diversidade, reporto a reunião virtual acolhedora com a Secretária nacional lgbt+, Symmy Larrat, que está dando força para buscarmos recursos às vítimas de nossa comunidade por conta da tragédia política e ambiental. Ela estará conosco em março, contando com a adesão de todo movimento e suas lideranças, neste grande coletivo que não é partidário!

Gaio Fontella é psicólogo, psicanalista, comentarista e produtor do “Café com Análise”, no Youtube.

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