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AS VESTES FEMININAS DE LULA

Vivemos uma série de terror nos últimos anos, quando o lugar do feminino, na ótica e na falta de políticas públicas, ficou inaugurado por Bolsonaro, referindo-se à própria filha como fruto de “uma fraquejada”.

A “última Dama”, Michele, seguindo a linha da xará do Temer, marcou sua presença como “recatada e do Lar”, de fachada: vinda de uma família cuja avó era traficante e a mãe falsária. O que não combina com o discursos em defesa da “família tradicional”.

Pior que isso, foi cúmplice de rachadinha do enteado, recebendo chequezinho do Queiroz, bandido miliciano. (E o filhote do “coisa ruim” garantia que não era “chegado a uma rachadinha”, morando com o priminho e passeando com uma cachorrinha, nada contra, mas também não é coisa de “gente de bem”, na visão deles).

Sem dúvidas, as lutas e a dignidade feminina não tiveram representações de respeito no governo Bolsonaro. Questões de gênero como um todo foram deturpadas pela ótica heteronormativa, hipócrita de Damares Alves e seu binarismo: “meninas vestem rosa; meninos vestem azul”. Fora sua posição capciosa, infratora do ECA, caso a denúncia de abuso sabido de bebês venha a se comprovar.

Na cultura, nada foi feito de relevância com a passagem canastrona de Regina Duarte. Culminamos com uma liderança forte dos “patriotas”, com “Cassia que o fascismo Kiss”, fomentando delírio místico-golpista, contando em corromper até Nossa Senhora, pela causa antidemocrática, em frente aos quartéis.

Número de mulheres no ministério de Lula é recorde. Foto de Ricardo Stuckert


Lula está com uma forte e competente mulherada no ministério. Destaque para Simone Tebet, renovação para um MDB mais ético, figura que teve papel firme na CPI da Covid, bem como para fortalecer a correlação democrática de forças que ajudaram Lula à presidência.

Tebet, no seu discurso de posse, trouxe comprometimento com a diversidade do povo brasileiro, sem esquecer compromisso fiscal, o que é bom e apaziguador do mercado.

Marina Silva também deve ao bom senso de Tabet em reconhecê-la como a legítima herdeira do Ministério do Meio Ambiente e questões climáticas. Marina ainda coopera nas articulações com evangélicos, com sua liderança.

Nísia Trindade na Saúde traz a experiência de pesquisadora da FIOCRUZ, fundamental no enfrentamento do negacionismo, das sequelas da Covid e a política genocida, fortalecendo nosso SUS (que a saúde mental seja contemplada, é com o que contamos também) e nos devolvendo a credibilidade perante a ONU e a OMS.

O feminino dá um tom ainda mais potente à diversidade ministerial de Lula: na luta contra o racismo estrutural, além de marcar presença do feminicídio da irmã, Marielle, que de pronto teve promessa de não ficar impune, pelo ministro da Justiça, Flavio Dino: Anielle Franco é uma escolha também capaz de atuar intersetorialmente, assumindo o Ministério da Igualdade Racial.

Emocionante, ainda, é vermos o feminino indígena numa luta pelos direitos dos massacrados povos originários, com a grande liderança de Sonia Guajajara, nesse inédito Ministério.

Quanto à Daniela Carneiro: que os urubus que veem sua presença ministerial como geradora de uma crise se acautelem. Se sua atuação e envolvimento com milicianos forem confirmadas, evidentemente, não será mantida. Isso não seria interessante nem para seu partido, o União Brasil, importante na contagem de votos pra governabilidade de Lula, que tem o poder para exonerá-la fazendo dela apenas uma turista num ministério que é importante por englobar a animação turística, nossa imagem lá fora, sendo um grande pilar econômico. Lula deixou um alerta que vale para o ministério todo: “Quem fizer algo errado será convidado a deixar o governo”.

Margareth Menezes é figura internacional como cantora e no Brasil uma militante cultural, bem escolhida a esse ministério (Também sobre ela existem cochichos não provados de endividamentos com verbas públicas, e vale o dito acima).

Nosso país, com uma gestão mais feminina e competente, não pode se deter em superficialidades e fomentos que diminuam esse momento de entusiasmo e esperança. Por isso, qual relevância dos trajes de Janja, nossa primeira dama, a não ser destacar a moda brasileira?

Subjacente a essa discussão, está a questão de desqualificação do protagonismo de Janja numa belíssima subida de rampa, diversa, a cara das políticas públicas almejadas pela democracia.

Além disso, tem o fato de ela marcar um lugar não passivo, diferente da "recatada do lar golpista e miliciano". E junto, vem a questão do beijo, esperado que fosse técnico, fake como o lugar do feminino pelas trevas bolsomínias. Roberto Freire bradaria em resposta: “Sem tesão não há solução!”.

Como psicanalista Lacaniano, tendo a linguística de Saussure considerada, procuro ver a polissemia do significante e outros que a ele se associam: O verbo vestir não se restringe à moda, mas, no atual contexto, a uma envergadura das bandeiras diversas que contemplam mulheres, índios, negros, o movimento LGBTTQIA+ e deficientes físicos.

Foi com essa proposição simbólica que Janja, socióloga, produziu a mais bela posse e subida de rampa da história do Brasil, além de divulgar e valorizar o vestuário criado e feito no país.

O machismo e a misoginia não suportam mulheres com tamanho protagonismo e ativas em tudo, inclusive com seu desejo e sexualidade. Beijo fake, portanto, é para quem “atua”, passiva e conivente, vestindo Armani, com a hipocrisia, com o genocídio e a corrupção.

Por isso, eu fiz questão de peitar essa discussão que dirijo não aos “bolsominions”, que não têm QI para entender, mas para setores da esquerda que deveriam, mais ainda, enaltecer a diversidade na rampa, que não esqueceu de nós, cachorreiros, com a “Resistência”, simbólica de tudo que Lula enfrentou: perdas, lutos, golpe e prisão.

A pet é, ainda, fidelidade resiliente e resistente, sem medo de ser feliz, que nos guiou à mais marcante posse de nossa história. O Brasil precisa ficar vestido com as cores e as almas de Lula, Janja e seu ministério.

Feliz 2023!


Gaio Fontella é Psicólogo, Psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, poeta, escritor, comentarista do “Café com Análise”, no Youtube













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