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AUTISMO E O DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL EM PSICANÁLISE


O psicanalista Mario Corso (coluna de ZH de 7/09/2022) ousou uma reflexão que demanda um entendimento do lugar do Outro materno, no diagnóstico de autismo.

O autismo, já visto como psicose infantil, é classificado nos transtornos do neurodesenvolvimento, no DSM-V, da APA (Associação Psiquiátrica Americana).

Trabalhei com jovem autista e usar transitividade numa escrita em lousa do que ele fazia na sessão, convocando-o a ler, deu bom resultado em socialização. Nesse trabalho, com oficinas terapêuticas inclusas, foi sendo observado que havia viradas de autismo para psicose, na fase adulta de alguns pacientes.

Hoje, a perspectiva multifatorial não exclui o fator genético. No entanto, não necessariamente fatal, pois o ambiente favorece manifestações ou não de um gene.

Na psicanálise, passa pelo lugar da mãe transitivista (ou de quem faz essa função) que insere o filho na linguagem, oferecendo na ordem do desejo o que Lacan chamaria de “o tesouro do significante”. A grosso modo, o psicanalista Jerusalinsky já dizia que psicose é “mãe de mais”; autismo, “mãe de menos”.

Na constituição do sujeito psíquico, até uns dois anos, que Lacan conceitua como “Estágio do Espelho”, o autismo apareceria como uma falha no circuito pulsional no qual o filho, no seu narcisismo primário, olha, é olhado e se faz olhar. Se o Outro não responde a isso, surge um autoerotismo, no qual a criança se volta para si, autisticamente.

Corso traz uma ousada demanda à psicanálise, pois essa perspectiva se afigura ao nomeado como “mãe geladeira”. Como resolver esse impasse no diagnóstico psicopatológico do autismo?

Sem precipitações e rotulações, acolhendo os pais, pois o sofrimento psíquico de ambos, seja por tantas tentativas de entenderem o que acontece com o filho e/ou por terem ficado feridos no seu narcisismo que é normal para o investimento pulsional no filho idealizado, demanda tratamento.

A psicanálise aposta na fala, não se propõe à generalização do lugar da mãe, vendo o que está em jogo na ordem imaginária, simbólica e no Real do genético e do neurodesenvolvimento e a máxima lacaniana: “Ninguém é uma máquina de fala”.



Gaio Fontella é Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, poeta e escritor, comentarista do “Café com Análise” no Youtube

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