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Caos climático

O Cais Mauá deixou de ser Porto, virou Embarcadero. Até a língua, até a palavra trocaram, apagaram os embarcadouros. Dragar o lago Guaíba nem falar.

Em suas margens, vivem pessoas, mas o CUB delas, digo, sub-habitações, não conta. Os descartáveis de corpo e alma estão no meio dos descartes.

Província é província, e tem que copiar Dubai e Balneário Camboriú. Buscar os céus. Céus!

O minuano não deixará de ser minuano aqui no meridional do país.

O Guaíba sempre vai receber águas do Sinos, Gravataí, Caí e Jacuí. Este recebe do grande Taquari.

O vento sul sopra sempre na mesma direção.

A Natureza é assim. Ela tem os seus meios e manhas. Ela responde do seu modo. Não pede licença jamais.

Não muda. Se tiver que agir será com a sua força. Descomunal para qualquer humano que se acha acima de tudo e de todos.

O Guaíba transbordou em Porto Alegre. Foto de Joel Vargas | GVG | Divulgação


Já os humanos são... Ah, os humanos parecem não aprender.

Os seres que se acham superiores acabaram com a proteção das nascentes. Cortaram as matas ciliares. Plantam e plantam, a cada palmo, custe o que custar. Eles não tem limites, aí pedem limites para os ventos, tormentas, ciclones, El Niño, para as águas. Não tendo limites, esperam que a Natureza tenha!

Plantam soja na beirinha do asfalto. Sumiram as árvores estradeiras e protetoras.

As águas lavam as lavouras. Aumentam as voçorocas.

Eucalipto virou inço. Não importa, pois tudo é agro.

Açudes esquecidos ou nunca abertos. Cisternas são coisas do Nordeste.

Pobre Sul. Pobre Rio Grande do Sul. Pobre de nós.

Será que o Rio Grande vai acordar?

Vai continuar em berço nada esplêndido, pensando nas suas façanhas? Menos, né, menos...

As chuvas castigaram o Rio Grande do Sul, diz a imprensa.

Não vi nem senti castigo.

Vi infortúnios e desespero por culpa de nossa História.

O resto é o resto.



Adeli Sell é professor, escritor e bacharel em Direito

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