Esta quarta (21) marcou o dia de se informar e conscientizar sobre a doença de Alzheimer, cada vez mais presente entre a população brasileira. A proporção de brasileiros com Alzheimer cresceu 127% em 30 anos. Até 2050, a doença de Alzheimer, responsável por sete em dez casos de demência, pode quadruplicar no Brasil se medidas efetivas de prevenção não forem adotadas.
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa caracterizada pelo comprometimento da memória e da capacidade de realizar tarefas cotidianas. A doença foi descrita pela primeira vez em 1901, por Alois Alzheimer, patologista alemão do Hospital psiquiátrico de Frankfurt. Ao atender uma paciente e notar que ela não entendia perguntas simples, como o nome do marido, e repetia sempre uma mesma frase: "Eu me perdi...". Após a morte da paciente, foi feita uma necropsia e Dr. Alzheimer descobriu anormalidades no cérebro, havia placas, chamadas de “senis”. Só em 1980, cientistas mostraram que estas placas eram formadas por uma proteína: a beta-amiloide (insolúveis no corpo humano). Estas placas entre os neurônios (além de outras estruturas emaranhadas dentro das células neurais, formada pela proteína TAU) se tornaram marcadores da doença. São as principais características biológicas de quem tem Alzheimer. Estes marcadores não significam que sejam os únicos culpados do desenvolvimento da doença, pode haver outros fatores. Mas estes biomarcadores são de suma importância para se avançar na pesquisa com medicamentos.
O que leva a comunidade científica a se debruçar de forma intensa em estudos e pesquisas buscando resposta quanto a natureza da doença e de como ela se comporta em cada fase. Inclui-se aqui o rastreio e diagnóstico precoce da doença, como por exemplo, métodos para identificar pessoas com maior risco genético de desenvolver a doença, antes que qualquer sintoma apareça. Foram analisados dados de mais de 7,1 milhões de alterações na sequência de DNA obtidos em um estudo anterior de pessoas com e sem Alzheimer. Através do refinamento e cruzamento de dados científicos, os cientistas acreditam que 28 tipos de proteínas podem estar ligados ao risco de Alzheimer.
Em relação a opções de diagnóstico e tratamento, ainda não se tem bons resultados para reverter os prejuízos causados pelo Alzheimer. O diagnóstico clínico geralmente ocorre tarde, ou seja, quando o paciente já apresenta lapsos de memória. Porém, os mecanismos de ação da doença já estão presentes anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas. O que se tem buscado é medicamentos para paralisar o avanço da doença ou reduzir a velocidade de progressão. A intensão da comunidade científica é descobrir rotas para acelerar a criação de novos tratamentos e aprimorar o rastreio e diagnóstico de pacientes.
Os especialistas da área classificam a doença de Alzheimer em 7 fases e, algumas vezes de forma simplificada entre 5 ou 3 fases. A classificação das 7 fases foi feita pelo médico Barry Reisberg da Universidade de Nova York. Esta divisão é usada por especialistas de todo o mundo.
De forma resumida, as 7 fases são as seguintes:
Estágio 1: Nenhum sintoma de demência. Ao envelhecermos, é comum apresentar lapsos de memória com maior frequência, mas não necessariamente indicam um problema mais grave.
Estágio 2: Perda de memória/esquecimento relacionado a idade
Nesta fase pré-clínica, não há sintomas evidentes na vida cotidiana. Apresentam reclamações de não conseguirem lembrar de nomes com a mesma facilidade de 5 ou 10 anos antes. Também reclamam de esquecer com frequência onde colocaram algumas coisas. Estudos apontam que esta fase pode durar até 15 anos em pessoas que não apresentam outros sintomas. O acúmulo de determinadas proteínas no cérebro pode levar de 15 a 20 anos.
Estágio 3: Impacto cognitivo Leve
Nesta fase, apresentam déficits sutis, mas que já são notados pelos familiares e pessoas próximas. Tendem a repetir a mesma pergunta várias vezes, declínio da função profissional, se ainda estiverem trabalhando. Dificuldade em aprender novas atividades. Pode se considerar uma fase inicial de Alzheimer e pode durar cerca de 7 anos. Importante aqui é buscar orientação médica e um diagnóstico especializado, para se verificar se há outras condições de saúde que podem estar influenciando nestas condições.
Estágio 4: Declínio cognitivo moderado/demência leve
O déficit funcional mais comum nesta fase é o declínio na habilidade de executar tarefas mais complexas da vida cotidiana, impactando em sua capacidade de viver de forma independente. Dificuldade em lidar com contas mensais, pagar aluguel, fazer comprar no supermercado, escolher um prato no restaurante, preparar alimentos. Esquecem de eventos recentes importantes (festas, visitas de parentes). Esta fase dura cerca de 2 anos.
Estágio 5: Declínio cognitivo moderadamente severo/ demência moderada
Nesta fase, apresentam sintomas que as impedem de ter uma vida independente. Dificuldade de executar atividades básicas do dia a dia, como de escolher a roupa mais adequada para clima e ocasião, se alimentar sozinho, pagar contas, manter as condições de higiene da casa e das roupas. Também podem apresentar problemas comportamentais, como ataque de raiva, desconfiança e irritabilidade. Não lembram de grandes eventos ou aspectos importantes da sua vida cotidiana, como por exemplo, seu endereço, condições do tempo, saem na rua de pijama, colocam uma peça de roupa e esquecem das demais. Esta fase dura cerca de um ano e meio.
Estágio 6: Declínio cognitivo grave/ demência moderada
Nesta etapa, perdem a capacidade de se vestir, tomar banho, escovar os dentes ou ir ao banheiro sozinhos. Confundem ou não identificam as pessoas, mesmo as mais próximas. Não lembram da escola onde estudaram, líderes políticos do país. Começam a ter dificuldade para falar. Os ataques de raiva podem ser mais frequentes. São incapazes de realizar atividades cotidianas básicas, apresentam comprometimento motor considerável e de reconhecer as pessoas. Esta fase pode durar cerca de 2 a 3 anos.
Estágio 7: Declínio cognitivo muito grave/demência muito grave
Nesta etapa, precisam de assistência para atividades cotidianas básicas e para a própria sobrevivência. Capacidade de fala cada vez mais restrita até ser completamente perdida. Perda da capacidade de andar e se sentar sozinho. A rigidez das juntas é cada vez mais frequente, impedindo movimentos básicos e levando a deformidades físicas. Uma causa comum de morte é a pneumonia, pela dificuldade de deglutição cada vez mais acentuada. É a fase mais grave da doença, em que apresentam demência grave, dependência completa para as atividades e estão acamados. Esta fase costuma durar de 1 a 3 anos. É a fase final da doença.
Enfª Mª da Graça Munareto
Referências:
- Rev. bras. Epidemiol. 24 • 2021 - Quem são as pessoas com Doença de Alzheimer no Brasil? Resultados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) Natan Feter; Jayne Santos; Leite Eduardo; Lucia Caputo; Rodrigo Kohn; Cardoso Airton; José Rombaldi. https://doi.org/10.1590/1980-549720210018.
- Jornal Zero Hora-Caderno Vida- “A Ciência contra o Alzheimer ”- 17 e 18 de setembro de 2022.
- Adriana SerenikiI; Maria Aparecida Barbato Frazão Vital- A doença de Alzheimer: aspectos fisiopatológicos e farmacológicos. Rev Psiquiatr RS. 2008;30(1 Supl).
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