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ESPERANÇA, COMBUSTÍVEL DO DESEJO NO 2023 EXITOSO


Quando 2022 começou, um suspiro de esperança foi dando sustentação ao desejo de libertação das trevas que tudo destruíram nesses anos bolsonaristas, fascistas. Evidentemente, para quem é pela democracia, com justiça social, equidade e inclusão.

O favoritismo de Lula não se perdeu, ainda que bem machucado pela máquina fascista que não brincou em serviço, subjetivando muitos que não eram propriamente da direita e/ ou fascistas.

A velhas fakenews, o fantasma de um comunismo que é palavra corrente nas hostes da direita, a “transformação do Brasil em Venezuela”, a ideologia de gênero, dentre outras pregações sem fundamentos, tampouco defendidas pela esquerda, foram ainda as armas para a tentativa de manutenção de Jair Bolsonaro no poder.

O dia da eleição foi de um “golpe de misericórdia” na literal obstrução dos eleitores que em maioria desejavam Lula presidente, muitos atemorizados pelos patrões, com ameaças, mentiras, bloqueios de estradas e manifestações que seguiram, antidemocráticas, criminosas, insanas, diante dos quartéis, pedindo golpe, sem reconhecimento da vitória de Lula, respaldada pelo mundo.

A derrota do negacionismo, do milicianismo, da destruição e desconsideração com saúde, meio ambiente, cultura, salário, emprego etc. deixou uma legião delirante diante dos quarteis, reivindicando intervenção militar, culminando com terrorismo em Brasília, tentando inibir a posse de Lula.

No entanto, a correlação democrática de forças com uma justiça que se levanta firme, não dá tréguas ao terrorismo de direita cuja projeção de sua pulsão de morte sempre atribui a violência ao MST, aos protestos de rua por justiça e direitos humanos e à esquerda como um todo.

A herança da experiência de dominação da burguesia, que em grande parte se refugiou na preferência fascista, teve outra derrota: o fim do orçamento secreto.

E então, as luzes foram se afigurado fortes com um governo diverso e eficaz já se refletindo na escolha ministerial de Lula, cuja diversidade, ética e competência são reconhecidas, para sustentação de políticas públicas intersetoriais às mais amplas demandas de emprego, salário, segurança, habitação, ambiente, educação, cultura e direitos humanos.

O movimento LGBTTQIA+, com gigantesca bandeira na posse presidencial, também aposta que todos os avanços que tivemos na era Lula e Dilma, com secretárias, conferências e lutas, tenha suas demandas contempladas em relação aos direitos de trabalho, educação, moradia e, sobremaneira, no combate à homofobia e transfobia que muito matam no país.

O Brasil da esperança se ergue com a potência de um melhor ministério da história, dando a chance de resgate a Lula das injustiças e lutos que sofreu, tendo um suporte cognitivo e emocional de uma grande e atuante militante, a socióloga Janja.

Neste dia primeiro de janeiro, no seu Discurso de Posse, Lula reafirma seu prioritário compromisso de campanha que é novamente tirar o povo brasileiro da linha da miséria, com a volta da “Bolsa família, forte e justa”.

Diz que irá cuidar da saúde, habitação, desenvolvimento da indústria e comércio. Destacou a importância do desenvolvimento sustentável, com proteção ambiental das florestas e seus povos.

Lula foi firme ao afirmar que “teto de gastos” não será impeditivo de suas metas de recuperação, também do SUS. Traz o compromisso com o combate ao crime organizado, revogando a liberação de armas que trouxeram mais insegurança às famílias. E, na sequência, Lira nos surpreende positivamente, chancelando o Programa de Governo e a posse de Lula.

A nação brasileira adoeceu na polarização do ódio, numa desrealização mental que nas frentes dos quarteis vem se ostentando. Lula garante que os crimes cometidos por Bolsonaro e seus adeptos não ficarão impunes!

Em nome dos profissionais da saúde mental, psicólogos e psicanalistas, reivindico que voltem os investimentos nos CAPS, por mais psicólogos nos postos de saúde, no PSF (Programa de Saúde da Família), nas escolas e nos hospitais.

Os desejos que se extraviaram, sem amor e falta de lucidez, carecem de uma política pública de saúde mental pró-vida em toda sua plenitude.

A política genocida de Bolsonaro, que o levou à CPI da Covid, teve em 2022 também dois grandes ataques ao nosso Sistema Único de Saúde (SUS):

- A abertura do Edital de Chamamento Público nº 3/22 visando selecionar Organizações da Sociedade Civil (OSC) para atenderem como hospital Psiquiátrico. Além da Portaria 596/202, com o objetivo de sustar o Programa de Incentivo Financeiro de Custeio Mensal para o Programa de Desinstitucionalização da Rede Psicossocial (RAPS). Tudo isso, na perspectiva mais perversa, neoliberal, de “mínimo estado” nas obrigações com saúde mental, na contramão das conquistas da reforma psiquiátrica e o espaço no SUS.

Para a psicanálise, os ritos de passagem têm estatuto simbólico que nos organizam. “Fim e começo”, como significantes que se abraçam polimorficamente a outros, agora, dizem de desejos que são singulares e coletivos:

- Um 2022, no seu findar, traz conexão com alívio, derrota fascista, derrubada de mito perverso, fim da fome, da mentira, do “secreto corrupto”, do anticientificismo, dos preconceitos. Numa escansão, “Fim” (encerramento), “dar” (espaço ao resgate da vida em tudo).

- O 2023 que inicia alterna metáforas e metonímias, de recomeço, resgate, transformação, justiça, reeducação, o reviver dos direitos individuais e sociais, com empatia e humanidade, ciência, cultura, nutrição do corpo e da alma brasileira.

A polarização que vivemos foi articulada pela saída fascista que a burguesia mais cruel e que teve seu ódio recalcado no pós-ditatura. A composição diversa do governo Lula traz um lugar ao PT como vanguarda não onipotente da retomada democrática, ética, transparente, sem “segredos” do que se vai fazer com o dinheiro público.

A frente ampla que sustenta a governabilidade de Lula, que deu um protagonismo inédito de já começar a governar na transição, nos remete a um tempo cujas diferenças e divergências entre a esquerda e a direita não fascista foi capaz de avanços muito significativos para o Brasil: o fim da ditadura, o impeachment de Collor, uma constituinte que selou uma Constituição Federal guiada por justiça, por direito individuais e sociais fundamentais a serem efetivados.

Como profissional da saúde, psicólogo e psicanalista, aposto num maior investimento em saúde mental, que passe por uma política pública intersetorial, com SUS, SUAS (Sistema Único de Assistência Social) e a área educacional.

Ficamos com um legado de adoecimento cognitivo e emocional com a pandemia e o negacionismo genocida de Bolsonaro.

Ficou cristalizada uma dissonância cognitiva, fomentada pelas mentiras, pela manipulação com o ódio e preconceitos, visando a um investimento libidinal na manutenção de privilégios, com desumanidade.

A aposta no fascismo não teve incômodo com os discursos e atos destrutivos e desumanos de Bolsonaro, sua incompetência, corrupção e falta de ética na administração pública.

O desfile a céu aberto e a subida da rampa por Lula e seu vice, Alckmin, foram simbólicas de uma literal posse democrática, sustentada pelo que é legítimo, pela coragem, com a comoção e torcida de um povo unido, “Sem medo de ser feliz” de novo!

Do discurso de Lula, fica uma máxima para os conspiradores do fascismo, que seguem disseminando o medo do comunismo imaginário e que tampouco nossa frente ampla democrática que assumiu o poder com Lula defende:

“Democracia sempre!”.



Gaio Fontella é psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista e produtor do Café com Análise, no Youtube.








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