Estou indignada. E também estou doída. E também com raiva. MUITA.
Ontem de noite voltava caminhando, chovia, lembram? Havia tantos moradores de rua embaixo da marquise tapados, até, com caixas de papelão. Papelão. Mais adiante havia um homem abrindo um contêiner. Todo molhado. Já pensaram na fome que ele teria para estar fazendo isso? As pessoas estavam molhadas e fazia frio. E eram muitas.
Não posso entender como, ainda assim, temos que sair a explicar o óbvio: Bolsonaro e os bolsonaristas mentem. Mentem porque sabem que com a realidade não ganhariam nas urnas.
Ele é misógino, ou seja, sente um ódio absurdo por mulheres e por todas as classificações que ele coloca por baixo, como LGBTQIA+, pessoas negras, indígenas. Como ainda existem mulheres que votam nele, que acreditam nele? Alô mulherada, como vocês vão votar em um militar que declarou sua admiração a um torturador? Sádico. Que levava as crianças para ver como suas mães eram estupradas?
Como é possível acreditar e repetir tantas mentiras? O PT esteve durante 13 anos na presidência. E eu disse 13?
Olha que número bonito. 13 é o número das Bruxas. As Bruxas foram queimadas “na antiguidade” por muitas mentiras que se contavam. As mulheres não podíamos pensar por nós, sermos independentes e autônomas. O mesmo que a ultradireita faz agora. Sabemos que a história caminha em espiral, não é que se repita, mas... volta em diferentes formatos. O que será que ainda não vimos?
Cadê nós-outras para abrir os olhos e fazermos a diferença? Como diz a jornalista Milly Lacombe, em um vídeo que está viralizando no Instagram, não é Lula contra Bolsonaro, trata-se de uma Frente ampla pela democracia.
Eu não acredito que estejamos passando por isto, que estamos com possibilidades reais de padecer mais 4 anos com um odiador de mulheres, entre outros tantos horrores, que acha que pode nos dividir entre quem merece e não, ser estuprada. Como se isso fosse um elogio!! Deusas! E ainda assim ele é votado! Que disse que teve 3 filhos e na quarta deu uma fraquejada. Lembram?
Eu estou com muita dor e raiva desse pesadelo que estamos vivendo, ter que explicar o óbvio, neste caso tão extremos que estamos vivendo!
Insisto, gente, mulherada, cadê nós para fazer a diferença?
Sei. Muitas delas não devem de ler Brasil de Fato, menos ainda esta coluna, mas vamos ocupar as redes e as ruas, sentar a conversar e escrever. Tem pessoas dizendo que não é com tal ou qual discurso que Lula e a Frente ampla vão ganhar, então, se cada um/a explica do seu jeito para sua gente, será que assim conseguiremos nos comunicar?
Estamos vivendo um dos momentos mais graves da história, e aqui, no RS, com possibilidades reais de termos o demónio na presidência, no Senado, no governo... vamos ficar de braços cruzados assistindo tevê e dizendo que horror, como aumentou a violência, ou vamos tentar encontrar estratégias de combate às fake News? De todas formas, acredito que o maior combate às mentiras seja sair a caminhar pela rua, ver e reparar na fome, nos rostos, nos olhos das pessoas. Cheguei a sonhar com um homem que caía na minha frente. Ele estava com fome e todo seu corpo tremia.
Como explicar o óbvio quando a fome e a miséria estão à vista? Me lembra a uma história que conta o escritor Jeferson Tenório. Ele dava aulas numa escola, estavam lendo a Carolina Maria de Jesus quando uma menina interrompeu a aula e perguntou ao professor que se a catadora de papel estava com fome, porque não comprava comida. Ela não sabia que existiam as diferenças de classes sociais. Ela não fazia parte desse mundo. Provavelmente ela não caminhava na rua, andaria sempre “protegida” num carro.
Antes de terminar quero chamar a atenção para um fato. Não confundamos ódio com raiva. Eles geram ódio. Ódio mata. Nós estamos com raiva. Raiva e ódio são substantivos substancialmente diferentes. A raiva é combustível para a ação, não existe mudança, nem revolução possível sem ela. Também ela é necessária para poder escrever textos e tentar acordar o povo.
Acordemos! Não temos tempo, à luta companheiras!
Hasta la victoria!
Mariam Pessah é escritora, poeta, ARTivista feminista.
Artigo publicado anteriormente na coluna Diálogos Feministas, do jornal Brasil de Fato RS.
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