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O TERRORISMO, O FASCISMO E A PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA


Invasão do Congresso Nacional em 8/1/23. Foto de Evaristo Sá | AFP

Embora o meu foco seja o que tem de adoecimento mental nos atos de terror que vivemos em Brasília, não tenho como não trazer os antecedentes que levaram a esta violência, patrimonial e moral, contra a democracia, seus símbolos e espaços de seus três poderes.

O fato é que o Brasil ficou com o fascismo e o terror vividos na ditadura incubados, mal resolvidos, na impunidade que a Anistia geral e irrestrita proporcionou. Na Argentina, se passou melhor a Limpo, o que podemos ver no filme “Argentina,1985”, excelente no gênero tribunal, trazendo a grande coragem de investigação e processo à ditadura daquele país, no protagonismo dos promotores Julio Stracessera (Ricardo Darín) e Luis Moreno Ocampo (João Pedro Lanzani), disponível na Netflix.

A nossa democracia, restituída com o fim da ditadura, foi se distraindo disso, pois numa correlação sem polarização, fizemos juntos coisas fundamentais, desde a derrubada da ditadura à constituinte de 1988 e o impeachment de Collor.

Na história recente, temos marcos indeléveis de que o fascismo estava dando as caras. No golpe resultante no impeachment de Dilma, ficou explícito no discurso cruel do então deputado federal Jair Messias Bolsonaro, referindo-se ao seu ídolo, torturador, general Ustra, como o “terror de Dilma Rousseff”.

Na continuidade, o “Messias” da bandidagem seguiu fazendo apologia à tortura, bem como escrachando seus preconceitos com negros, mulheres, gays, discursos típicos do nazifascismo, se aliando à milícia e a ampliando com a liberação das armas.

E o “filhote do messias do mal”, Eduardo Bolsonaro, protagonizou um dos discursos mais desrespeitosos ao STF, o qual seria fechado fácil, com “um soldado e um cabo”.

O Supremo passou a ser desqualificado nas manifestações bolsomínias, trazendo o seu “povo” como superior. Com isso, fazem uma metonímia nefasta do significante, reduzido a um signo deles, restrita, indutiva, apenas a seus partidários. Dando um rebaixamento ao STF, que, legitimamente, é o topo da justiça na democracia.

Em “Psicologia das massas e análise do eu”, 1921, de modo visionário, Freud antecipou o que favoreceria subjetivamente o advento do Nazismo, que vale para o Fascismo, Stalinismo como a qualquer regime autoritário e totalitário:

“Como seria impossível para o fascismo ganhar as massas por meio de argumentos racionais, sua propaganda deve necessariamente ser defletida do pensamento discursivo; deve ser orientada psicologicamente, e tem de mobilizar processos irracionais, inconscientes e regressivos”.

Freud postulou que a primeira identificação é emocional. Isso ajuda a entender a relação do grupo que atua com um terrorismo que vem sendo fomentado pelo Líder das massas insanas, valendo o autoengano, a mentira, para destruir as conquistas democráticas, o meio ambiente, a arte e cultura, reafirmação que a “turba” fez em Brasília.

Lula disse que não gostaria de ter recorrido a uma intervenção federal, justo por ser um homem que aposta no simbólico, na palavra. Coisa que na lógica insana fascista, terrorista não opera.

Psicanalista e psiquiatra que fez a releitura de Freud, Jacques Lacan faz diferença do Simbólico, com o conceito “Real”, “aquilo que não cessa de não se escrever”, sem uma representação.

Assim, o “Real” escatológico foi recurso usado pelo fascista Thiago Albuquerque, funcionário do Banco do Brasil, pois as “merdas” que são ditas por eles se repetem, sem fundamentos.

Mesmo o repertório pobre e repetitivo ficou limitado, para expressar a estocagem de cocô que tem na alma, nos cérebros desses vândalos que precisam de atos chulos e violentos. Suas bandeiras não são persuasivas a quem tem respeito à diversidade, amor à vida, à democracia, à cultura e às artes.

Na psicanálise, o mais imaturo mecanismo de defesa é a projeção que em seu mais alto grau, junto com muito imaginário, denota sintomas típicos da psicose. Aplicando ao visto, que o terror, a tortura, que seu líder mortífero nunca escondeu, agora aparecem nas queixas de maus tratos na ação da intervenção federal.

Inventam fakenews de agressões às crianças na prisão merecida do bando fascista. Crianças, estas que eles expuseram num protesto e ato criminoso, ferindo princípios básicos do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), pelo que também devem responder!

E esquecem, ainda, que um grande vandalismo do governo corrupto, miliciano, foi na merenda escolar reduzida a 1;4 de ovo cozido, 20g de arroz, com o desaparecimento de 1/3 do orçamento da União.

E, no auge do sintoma projetivo, vimos a culpabilização de que foram vândalos “infiltrados” da esquerda que tocaram o terror em Brasília. (O que sempre foi coisa deles, agora no discurso de Cássia Kiss, para tirar a responsabilidade de Bolsonaro, bem como das autoridades do DF).

Na ordem da projeção, temos um grande cálculo que passa desde a “formação de quadrilha” atribuída a um “Lula ladrão”, ao que deles já temos em mãos: a corrupção com os “Pastores do MEC”, as rachadinhas, os imóveis comprados com dinheiro vivo etc.

E na reta final, temos o esvaziamento dos cofres públicos: o TCU (Tribunal de Contas da União) não consegue encontrar documentação que justifique a execução de mais de 1, 6 tri do orçamento federal, fora o que será apurado com o fim dos “Cem anos de sigilo”.

A psicopatologia psicanalítica não tem como transformar o que é de grupo em sujeito, objeto de nossa clínica, para diagnosticar o bando terrorista.

Porém, ficam evidentes vários sintomas coletivos que apontam desde uma loucura histérica, mega insatisfação com o resultado das eleições, com a linda posse, com a alegria que a democracia vem ostentando, inclusive na mídia, no Programa do sábado anterior, na Globo, “Altas horas”, que nos emocionou com a dupla homenagem à vitória e a um grande menestrel das lutas democráticas, Milton Nascimento.

Na loucura coletiva, o grupo reafirma sempre um sintoma paranoico, com o comunismo imaginário, uma “ditadura do proletariado” que não é defendida pela nossa esquerda, tampouco pela frente ampla, democrática, que levou Lula à presidência.

Se diante de uma gama de sintomas observados na dinâmica grupal dos terroristas fascistas não podemos dar um único diagnóstico, ao seu líder, não corremos riscos de fazer uma análise selvagem: ele é um perverso que goza com a morte, com a violência e a destruição de tudo! E, mesmo fujão, segue na sua orquestração fascista.

No entanto, ficou bem claro que embora essa turba não se extinga facilmente, seus atos e intenções foram derrotados. No delírio enorme, ficou clara a falta de um respaldo que desse aos atos uma logística, uma organização, para uma imposição no poder.

Hoje, não tem o respaldo americano que a ditatura militar teve, para matar e torturar, muito pelo contrário: o Mito agora pode ser pego até pelo FBI, o que seria uma resposta ao mundo de seus crimes de Lesa humanidade.

A justiça e a intersetorialidade do ministério Lula, com apoio da sociedade civil, dos governadores, atuaram rápido, prendendo e indiciando todos os fascistas, seus simpatizantes, financiadores e apoiadores.

E a nossa democracia se reconstitui firme, no imaginário, no Real e, sobremaneira, no simbólico, pois não tem facada que extermine a importância da expressão artística de nosso povo como “As Mulatas” de Di Cavalcanti.

Tampouco nossa Constituição não se invalida no “Real”, com rasgos e roubos, que nossa justiça está, com firmeza e celeridade, penalizando e exigindo reparos morais e materiais.

Na coesão de seus três poderes, com Lula e seu ministério resgatando a nossa arte, cultura, justiça, saúde física e mental e o espírito diverso, democrático que venceu nas urnas, sai vitorioso, mais fortalecido da violência, dos atos insanos que Brasília viveu com anistia zero aos fascistas, terroristas.

Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, comentarista do “Café com Análise” no

youtube).














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