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RASCISMO E XENOFOBIA: UMA ESCRAVIDÃO ESTRUTURAL

Atualizado: 28 de mar. de 2023

Em pleno século XXI, é inacreditável a revelação do trabalho que se afigura à escravidão nas vinícolas de nossa serra.

Novamente, existe uma acomodação das autoridades que ao não fiscalizarem acabam coniventes com a manutenção de Crimes de racismo e tortura que são hediondos, imprescritíveis, inafiançáveis, tampouco passíveis de graça, anistia ou indulto, pelo Artigo 5 de nossa Constituição Federal.

Bem importante é vermos o que tem de subjetivo no assujeitamento que se deveu esse tempo por parte dos subjugados, que evidentemente tem a ver com necessidades de toda ordem, mas não justificam o crime dos empresários. Michel Foucault traria a importância das de poder que passam pela resistência, o que não acontece quando há escravidão.

Quanto ao vereador infeliz, Sandro Fantini, do Patriota, de Caxias do Sul, que além de chancelar tudo isso, num discurso xenofóbico em relação aos baianos, cometeu também crime que dever ser punido.

Além do preconceito, tem a ignorância em relação à multicultural potente da Bahia que produziu na literatura expoentes como Castro Alves, Jorge Amado, Zélia Gattai.e João Ubaldo Ribeiro. Na música, Raul Seixas, o Papa da Bossa nova, João Gilberto, Caetano, Gil, Gal, Bethânia e demais tropicalistas, além do Cinema Novo de Glauber Rocha, dentre tantos.

Tenho posição bem diferenciada da maioria à esquerda, trazendo o conceito de anomia, da filosofia grega,: referente a duas maneira de se ver uma questão, com lógica, mas que chegam a conclusões diferenciadas.

Sou contrário a ações que “jogam a água suja com o bebê junto”. Denunciar os empresários perversos é dever de todos que defendem os direitos humanos. No entanto, o boicote é desqualificador de um produto que, embora tenha emparelhado um trabalho ilegal, tem qualidade e pode então vir a gerar empregos dignos e legais. Eu não vejo como produtivo acabar com essa produção, mas com sua forma.

Essa é uma discussão que a esquerda deve retomar com mais ponderação. E é válida para as corrupções em estatais. Na Europa, as empresas não são boicotadas, mas penalizados seus dirigentes criminosos, evitando prejuízos como queda de produção, arrecadação e empregos.

O racismo e a xenofobia são estruturais, passam da cultura para o filogenético. Como disse Einstein: “Mais fácil desestruturar um átomo que um preconceito”. No discurso do sujeito é que se revela, como no do vereador Fantini.

Essas narrativas criminosas seguem chanceladas pelo Bolsonarismo. Mas nos servem para barrar ações e manutenção de seus atos.

Leonel Radde, deputado estadual do PT, fez contundente e firme denúncia em Plenário da Assembléia,contra o Rascismo e xenofobia associados ao trabalho de semiescravidão nas vinícolas serranas. E Luciana Genro do Psol na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos teve proposta aprovada com unanimidade de um requerimento de audiência pública para investigar o trabalho de semiescravidão de mais de 200 trabalhadores nas vinícolas de Bento Gonçalves.

Assim, como na clínica psicanalítica, a regra “fale o que vier na cabeça” nos coloca na ética de também ouvir, no entanto sem pacto perverso, o que é dito em plenário nos deve ser útil para o corte com a resistência libertária e os rigores da lei.

Se foi um lapso, como disse o infeliz vereador Fantini, querendo se desculpar, cometeu uma das formações do inconsciente, conforme Freud, calcada na internalização de um desejo perverso que deve ser barrado, cortado para que o novo se faça. No Brasil que estamos construindo, não há aval para o trabalho escravo, tampouco à xenofobia e ao racismo que seguem revelados na sua esteira.

O Show do Gilberto Gil teve uma plateia que foi porta-voz dos gaúchos que não são xenofóbicos, ovacionando várias vezes a figura dele e de sua terra. Como diria o próprio, para quem precisa censo e cultura: “A Bahia já meu deu régua e compasso”.


Gaio Fontella (Psicólogo, psicanalista, graduado e pós-graduado pela UFRGS, debatedor do “Café com Análise” no Youtube)

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